11/28/2006
SATISFAÇÃO
Cansei de ser pu.eta!
Ervas-daninhas reconfigurem o jardim das minhas vaidades.
9/27/2006
Cópia
9/23/2006
9/22/2006
Encomenda
Ponto
Nem colorir as telas de Seurat
Tenho sede do fim
E de tudo o que venha após mim
Condeno ladainhas ao precipício
Meu medo é o mesmo
Minha fé é a morte
Meu desejo, o início.
Amor de ponta
Que sina.
Como se ama assim?
Quem ama fere, espeta, arranha?
Enterra-se até o fim?
Minha cabeça é o limite de minha entrega.
9/13/2006
Ode ao travesseiro
Para não passar em branco
Para me passar a limpo
Estou desconfigurada
Sopa de letras sem nenhuma poesia
To me dando de colher
Vou evaporar no banho
Vou condensar na cama
Me entregar por inteiro àquele que mais me ama
9/05/2006
Beijos
Espanei conceitos
Varri loucuras
Penteiei minhas asas de poeta
Não pinguei os is
Não ditei as regras
Não escrevi torto por linhas certas
Não tostei o texto
Não lixei o verso
Não ensopei lamentos
Será que mereço?
Um beijo?
Este é meu desejo
Um beijo e anexos
Um beijo complexo
Um beijo e seus complementos.
9/03/2006
Braile
Este poema é um convite
Recite ao pé do ouvido
Daquele que te tem
Mas não te possui
Este poema é feito de confissões na escada
Ensaiadas
De declarações em guardanapos
Guardados
De beijos na boca
Perdidos no rosto
Este poema está na estrada
Pedindo carona
Correndo riscos
Passando frio
Só para chegar até você
Leia com as mãos
Gravidade
8/30/2006
Autobahn
É que meu coração ama demais
Procura-se uma canção para ninar um coração assim
Uma canção que adormeça um coração eufórico
E não provoque sonhos convulsivos
Amo por demais
Em 220
A 180
A todo instante
Meu coração acredita em tempos paralelos e reforma agrária
E em tudo que justifique sua entrega voluntária
Que sina ter um coração assim
Que segue o destino e ama o retrovisor
Que deseja as curvas mas quer seguir reto
Que conhece as leis e me dirige embriagado
Um coração que ama ser acelerado.
8/28/2006
A la carte
Este poema me consome
8/26/2006
Prendas
8/23/2006
Luis XV
Nem o que você sente
Nem me interessa o amor-carente
Já tive o amor-objeto
Direto
Animado
De desejo
O amor-beijo
De língua
De flor
E traição
Procuro agora um amor-capacho
Que adore me ver por baixo
E goze sob a pressão do salto
Alto
Um amor-precipício
Condenado desde o início à poesia
Verso. Rima. Cadência.
Pó. Servidão. Obediência
E podofilia
8/18/2006
Tipofagia
Borboleta não.
Hoje, não fosse mulher,
Queria ser traça.
Traças moram entre palavras
Alimentam-se de letras
E têm aversão a registros
Salvo o registro de sua arte
A arte da traça caminha no livro
Seu caminho é hipertexto
Para ler livros co-escritos por traças
É preciso saber ler a ausência
E se deixar envolver pela conexão sucessiva de ausências sobrepostas
A traça se expressa pela fome
E a fome é sua licença para devorar o livro
Quem condenaria uma traça ao pé da letra?
Não fosse traça
Queria ser letra,
escolhida e devorada,
na melhor parte da estória.
8/17/2006
Metablog
Sou poeta de versos emprestados
Tecidos com palavras usadas
Tenho um coração de segunda mão
9:55 PM
Urbano Lumière disse...
Meu coração é um tanto mais vagabundo,
encanta-se com olhos e versos todos eles usados
(os versos, não os olhos)
em muitas labutas retórica
sem muitas frases e pictogramas.
Quanto aos olhos, basta que olhem
algum ponto de meus infinitos.
10:04 PM
Débora disse...
meus versos são vagabundos e sem métrica
o meu coração já foi usado em labutas e amores mal resolvidos
guardo em silêncio alguns versos
e um beijo que ainda não foi dado
11:21 PM
Eler disse...
Assim desejo morrer, meus amigos:
Metralhada por todos os beijos que nunca foram dados.
12:25 AM
Versos interrompidos
Um verso prematuro brotou em mim.
Tentei queimá-lo como verruga, com ácido.
Sinto que vou parir um poema interrompido.
Outra cicatriz no pergaminho que sou.
Meus versos alimentam traças e infelizes.
8/14/2006
NADA
A não ser o próprio nada
Nada é real
A menos que seja nada
Somos todos náufragos
Morrendo por nada
O que me faz viver
Se nada tenho a oferecer
E se de você
Não sei realmente nada?
Insisto nesta balela
Porque sempre surge algo
De onde nada se espera
Aneurismas 2
O que me seduz é a entrelinha
O intervalo
A reticência
A ignorância da ciência
O soluço
A porta semi-aberta
Coágulos de amores não resolvidos
Cápsulas de medo e quase
Aneurismas de escolhas comodistas
Em nome de uma história politicamente correta
Disto tenho medo.
8/13/2006
Catedral
És um vitral, menina.
Sorri colorindo as alturas.
Hoje percebi meu rosto escorrendo.
8/11/2006
Pautas binárias
Tomem a oração principal
Ocultem o sujeito composto
Vomitem as aspas
A partir de agora os verbos colorem em qualquer pessoa
Descarrilham nas entrelinhas de pautas binárias
Conjugam torto por linhas imaginárias
Declaro que toda oração é protagonista de sua própria fé.
Queima de corações em estoque
- És sapo.
- Teu beijo me fará nobre.
- És trapo.
- Teu corpo me fará útil.
- És fútil!
- Por isso me desejas.
Sou supérfluo, descartável e inútil.
Sou amor à terceira vista
Míope. Estrábico. Daltônico
Sou o oposto do amor platônico
Corpo. Fome. Pernilongo
Diria que és o sonho de uma vida inteira
(Não fossem o despertador, a insônia e a arrumadeira)
Toma!
É todo seu meu coração liquidado
Peça de mostruário embalada com carinho.
Esqueça o Serasa.
Podes já levar pra casa
E matar de inveja o teu vizinho.
Lua cheia
Esta vida é texto de muitas entrelinhas.
Este poema é face de muitos versos.
Gostaria de encontrar meu pretérito mais que perfeito.
Repartir as orações sem sujeito entre os sujeitos sem predicados.
Será esta minha sina?
Ser palavra-prima que só rima consigo mesma?
Meu desejo é cair na boca do povo.
É deitar letra e acordar música.
É deitar gente e acordar estrela.
É ser lua-cheia de mim
E dizer siiiimmm ao lobo-mau.
8/02/2006
Vírgulas
Prazo de validade e paciência
Cansei de ser cura
Poesia de bula
Literatura de banheiro
Meu reino por um travesseiro!
Vou despir a pele
Tatuar os rótulos
Prosecco. Veneno. Remédio
Qualquer coisa pra brindar o tédio
Qualquer coisa que me ponha em risco
Uma dose de verdade
Uma taça de saudade
Um coquetel de asterico
Vou me entregar ao texto
Sem pudor
Sem pretexto
Sem ética
Morram, vírgulas, soterradas
Sob os escombros desta poesia epilética
7/14/2006
Aneurismas
Como és bobo. Nem tens côrte.
Ouço teus pensamentos e lamento tua sorte.
Como és tolo. E ingênuo.
Qualquer dia, vou cravar-te as presas.
Devorar-te às pressas.
Consumir-te em veneno.
Três desejos de tua mente.
7/13/2006
Bobagens
criam pernas em meus miolos de acém.
Tenho de arrancá-las feito ervas-daninhas e
fazer chá de inconseqüência. Já tomou?
As bobagens que crescem em minha cabeça
são suicidas-sociopatas. Se as dou corda,
nunca sei se vão se enforcar. Ou se vão rodopiar
até o fim da música. São judas, isso sim.
Quem cultiva bobagens-judas colhe beijos-traíras.
Adoro beijos.
Há quem diga não conhecer, na literatura,
nenhuma bobagem que tenha morrido de viver.
Difícil encontrar bobagens verdadeiras hoje em dia.
A maioria é manufaturada na China. As sino-bobas.
Não se pode negar: uma bobagem que morre de viver é,
no mínimo, uma bobagem legítima.
Mas bobagem boa, boa mesmo, tem de ser feita a dois.
7/12/2006
Sanatório das vacas
7/11/2006
7/10/2006
Ao repetente
Sou questão aberta
As respostas estão certas
As perguntas é que são tortas
7/08/2006
Febre. Delírios. Hematomas.
Amor sem cura. Sem culpa. Sem tédio.
Um amor-remédio para um coração sem sintomas.
7/06/2006
Não me craseie, meu amor. Não me craseie.
Sou artigo de luxo.
Amante do objeto. Direto.
Não sou complemento.
Sou acento.
Não me conjugue, meu amor. Não me conjugue.
Desconheces meu tempo e minhas anomalias.
Sou mutante. Ora consoante. Ora poesia.
Ninguém me rege.
Não me recite, meu amor. Não me recite.
Não conheces minha língua. Nem nada que me excite.
Não és transitivo. És apenas figurativo.
Um sujeito inexistente.
Não. O G nunca foi ponto.
7/05/2006
Grande exposição das fobias humanas
Nesta ala, embaixo da cama, o medo do bicho papão
E acima, sonhando acordado, o medo da solidão
À esquerda, tremendo de frio, o medo dos abraços falsos
E neste carro, no olhar desvio, o medo dos pés descalços
Aqui mesmo, ao meio dia, o medo da própria sombra
À meia noite, em anestesia, o medo da assombração
No subsolo, rastejando aflito, o medo das alturas
E à sete palmos, soterrado vivo, o medo da morte
Deste lado, de paixões atadas, o medo da loucura
E entregue, de mãos beijadas, o medo da própria sorte
Neste ambiente, à prova de rugas, o medo do tempo envelhece
E neste relógio, à prova do tempo, o medo de mudar permanece
Em cima do muro, bem-mal-me-quer, o medo da escolha
E no poder, decretando a censura, o medo dos pensamentos
Nesta mesa, abstêmio convicto, o medo do saca-rolhas
E, por fim, de coração invicto, o medo dos sentimentos
Quem não tem nada a temer que atire-se às torres.
6/24/2006
A experiência
6/21/2006
Clima
Dia nublado sujeito a versos.
Te aguardo com fome de palavras doces e abraços fortes.
Que recheio terás hoje à tarde?
Licor, cinismo, reticências, sorte...
Que importa?
Não estás no menu.
Não te servem a la carte.
Façamos um brinde:
Ao jejum involuntário
Às nuvens carregadas
E ao medo das intenções
Beberemos até chover em versos.
Choveremos até versar em duplos.
Que nenhum guarda-chuva nos prive das precipitações.
6/19/2006
Cafeína
Versos bárbaros
Versos bárbaros,
Invadam meu poema esta noite
Libertem os vocábulos obscenos
Degolem todas as palavras de família
E tirem as mordaças dos adjetivos devassos
Vamos conjugar o verbo no deleite mais que perfeito
E espalhar o terror no glossário pudico
Destruir o Templo das Orações sem Sujeito
Anexar os Vulcões da Lascívia ao território dos Amantes Mornos
Palavras virgens, entreguem-se aos transitivos
Línguas mortas, ressuscitem na boca do povo
Que todos vejam:
6/17/2006
Beijo Paradoxo
Falo do beijo
6/16/2006
Poema de cera
O resto estava em sua mente: amores inacabados, palavras inseminadas e sabores latentes.
De mais nada sentia falta além de se entregar generosamente.
E se entregava ao pôr-do-sol, quando seus desejos amarelos amadureciam e ardiam em vermelho até a madrugada.
Uma metamorfose de cores, sentidos e asas.
Sim, asas que impediam seus pés de criar vínculos com o destino.
Aprendera a técnica dos gatos e deixava-se guiar pelas narinas.
Assim escolhia seus destinatários.
Mas um dia o sol não deixou a paleta.
Dois dias. Um mês. Um inverno em escala de cinza.
Fechou a janela e os olhos. Deitou seu travesseiro de plumas.
Agora faz poesias entregando-se aos desejos de seus amigos imaginários.
img gettyimages
6/15/2006
Versos tontos
As palavras levitam - já não as alcanço
As rimas dançam em duplas
E a taça me inspira
A traça me inspira
A graça me inspira
E tudo giiiiira
Palavras navegam em meu sangue tinto
E tudo sinto
E tudo desejo
E tudo vejo aos pares de beijos
Se bebo vinho faço versos tontos
6/14/2006
Antropofagia
6/11/2006
Como não deliciar-se vendo dois sachês em plena infusão?
Aos poucos as cores diluindo-se na água quente.
Frutas, flores e folhas - aromatizando a sauna,
Entregando-se em essência e sabor
Os amores de chá são pontuais.
Acontecem todos os dias de outono, às cinco.
Admiro os amores de Capuccino.
Generosidades cremosas em canecas decoradas.
Para viver amores de capuccino existem muitas receitas, mas
canela, chocolate e espuma de leite são ingredientes essenciais para aquecer o coração.
Os amores de Capuccino são amores de verão no inverno.
Momentos sem noção de amanhã.
Amo os admiradores de Café
Pequenas xícaras concentradas de aroma e cor. Sonetos da gastronomia.
Castanhos avermelhados como amores verdadeiros,
os admiradores de Café amam intensamente, em dose única.
Estes amantes flertam com outros sabores: rum, baunilha, licores...
E sobre estes prevalece, perturbando os sentidos.
Mesmo moídos, excitam o coração e beijam a língua.
São amores com noção de paixão.
Acontecem a qualquer hora.
6/03/2006
Gripe
Um poema forte de efeitos imediatos
Recite em dose única para alcançar os hipocondríacos
Que não lacrimeje os olhos com falsa tristeza
- Antes a dor que a tristeza falsa
Que seja raridade genérica ao alcance dos pobres
Mas que custe caro, a vocês, pobres de espírito -
Alvo de bactérias e vírus,
recebam de peito aberto este poema-espirro:
ZZZZTCSH!!!
img: getty images
5/31/2006
Namorado
Sonho pra mim é feira
De manhã escolhido
Ao meio dia estripado
À tarde temperado
À meia noite servido
Dizendo sim aos alecrins.
Boca pra mim é céu.
Riscos
De mão beijada
Cara lavada
E maçã na boca?
Dê-se de presente
Abandone-se na porta da frente
Com um bilhete estranho
E uma cara louca
Talvez ela te acolha e te ofereça o peito
Talvez ela te empane e despreze os restos
Quem sabe até te ame um amor perfeito
Quem sabe até te ensine a falar em versos
Por que você não arrisca?
Ser:
rejeitado. humilhado. descascado
pisoteado. diminuído. esfolado
Vivo.
A dor da imagem te fez cativo?
5/30/2006
Corte e costura
5/29/2006
Poetisa
Joana, Roma, Joelma, Pompéia
Todas entregaram-se às chamas,
mas qual foi consumida em versos?
Palavras me consomem
Mais que gestos
Gestos traem
Palavras se entregam
Quem me condenará à fogueira
para que eu arda até as cinzas?
Do centro, orquestrarei as chamas
Quem me lançará as cinzas para que
eu voe até os versos?
Do alto, escorrerei em lavas
Quero fundir palavras cuspindo fragmentos de rimas
Resistes a um poema insano?
Veja-me dançar, Herculano,
Com línguas de fogo sobre tuas ruínas.
5/27/2006
Complexo de travesseiro
Nunca sei o que pensar de olhares assim. Deveria retribuir com um sorriso-chá-das-cinco ou com um aceno-capucino? Fiquei ali sem saber o que fazer. Cara de patê no meio do corredor. Pelo menos não deixei escapar um destes sorrisinhos-edredons que saltam dos meus lábios no outono. Estes traidores insistem em me entregar nos momentos mais impróprios. Como são inconseqüentes. Não têm noção de inverno. Só pensam em edredons, meias e beijos. Edredons novos, meias 3/4 e beijos na bochecha - tão macios quanto travesseiros de plumas. Sim: tenho complexo de travesseiro mas meu analista só atende no verão.
5/25/2006
Poema de esfoliação diária
Onde falham as vozes que reinem os calos
Dá-me um poema áspero
Que rasgue a seda
E engasgue o tímido
Que agrida o tato
E esfolie os sentidos
Que pelas rimas me lixe e pelos versos... fetiche
Um poema de versos roucos em trajes amarrotados
Mas se não és poeta de fato
E a ti não soar por demais estranho
Dá-me ao menos um banho
De língua áspera de gato.
5/24/2006
Acordes para a insônia
5/22/2006
5/21/2006
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O coração que tu me destes
Venceu no mês passado
Como se despreza um coração vencido?
Enrola-se em jornal?
Enterra-se em recipiente de vidro?
O último eu reciclei como me disseram
Sequei no forno, moí e adicionei às plantas
Floriram amores-indigestos
O coração que tu me destes
O coração que tu me destes recebe mensagens?
Não se atrase. Hoje vão tocar nosso tom musical.
Morreu esta manhã
A empregada não molhou como instruí
E o gato o derrubou da janela
Despedi a empregada e atirei o pau no gato
Eu poderia te dar meu coração para compensar
Mas, como sabe, ele morreu esta manhã.
Ele bateu à minha porta esta tarde.
Contou que perdeu seu coração no ano passado
Quando passeava na Praça da Alforria
Ofereceu recompensa e espalhou panfletos pela cidade
Disse que definhou quilos e amargou insônias
Tornou-se um andarilho sem coração
Mas ontem ele me viu atravessar iluminada a Praça dos Sós.
Não teve dúvidas.
Agora o coração que tu me destes está ameaçando pular do terraço.
Ligue a TV e veja você mesmo.