7/14/2006
Aneurismas
Como és bobo. Nem tens côrte.
Ouço teus pensamentos e lamento tua sorte.
Como és tolo. E ingênuo.
Qualquer dia, vou cravar-te as presas.
Devorar-te às pressas.
Consumir-te em veneno.
Três desejos de tua mente.
7/13/2006
Bobagens
criam pernas em meus miolos de acém.
Tenho de arrancá-las feito ervas-daninhas e
fazer chá de inconseqüência. Já tomou?
As bobagens que crescem em minha cabeça
são suicidas-sociopatas. Se as dou corda,
nunca sei se vão se enforcar. Ou se vão rodopiar
até o fim da música. São judas, isso sim.
Quem cultiva bobagens-judas colhe beijos-traíras.
Adoro beijos.
Há quem diga não conhecer, na literatura,
nenhuma bobagem que tenha morrido de viver.
Difícil encontrar bobagens verdadeiras hoje em dia.
A maioria é manufaturada na China. As sino-bobas.
Não se pode negar: uma bobagem que morre de viver é,
no mínimo, uma bobagem legítima.
Mas bobagem boa, boa mesmo, tem de ser feita a dois.
7/12/2006
Sanatório das vacas
7/11/2006
7/10/2006
Ao repetente
Sou questão aberta
As respostas estão certas
As perguntas é que são tortas
7/08/2006
Febre. Delírios. Hematomas.
Amor sem cura. Sem culpa. Sem tédio.
Um amor-remédio para um coração sem sintomas.
7/06/2006
Não me craseie, meu amor. Não me craseie.
Sou artigo de luxo.
Amante do objeto. Direto.
Não sou complemento.
Sou acento.
Não me conjugue, meu amor. Não me conjugue.
Desconheces meu tempo e minhas anomalias.
Sou mutante. Ora consoante. Ora poesia.
Ninguém me rege.
Não me recite, meu amor. Não me recite.
Não conheces minha língua. Nem nada que me excite.
Não és transitivo. És apenas figurativo.
Um sujeito inexistente.
Não. O G nunca foi ponto.
7/05/2006
Grande exposição das fobias humanas
Nesta ala, embaixo da cama, o medo do bicho papão
E acima, sonhando acordado, o medo da solidão
À esquerda, tremendo de frio, o medo dos abraços falsos
E neste carro, no olhar desvio, o medo dos pés descalços
Aqui mesmo, ao meio dia, o medo da própria sombra
À meia noite, em anestesia, o medo da assombração
No subsolo, rastejando aflito, o medo das alturas
E à sete palmos, soterrado vivo, o medo da morte
Deste lado, de paixões atadas, o medo da loucura
E entregue, de mãos beijadas, o medo da própria sorte
Neste ambiente, à prova de rugas, o medo do tempo envelhece
E neste relógio, à prova do tempo, o medo de mudar permanece
Em cima do muro, bem-mal-me-quer, o medo da escolha
E no poder, decretando a censura, o medo dos pensamentos
Nesta mesa, abstêmio convicto, o medo do saca-rolhas
E, por fim, de coração invicto, o medo dos sentimentos
Quem não tem nada a temer que atire-se às torres.