4/21/2006

Poema de aniversário

Aceite, meu amigo,
Este buquê de sentimentos clichês embalados em palavras inéditas
Não são versos que se cheire, nem espinhos que se pise
Mas carregam o pólen de mil serendipities
Desfile feliz pela cidade ouvindo o comentário dos infelizes
- Ele é amado! Ele é amado!
Decore, meu querido,
Este poema de flores sacrificadas em tua homenagem
Não atraem borboletas e murcharão no fim da tarde
Que importa?
Só vais lembrar que és amado.
E o resto é bobagem.
....
Ilustração: Chema Madoz

A sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida

Não é sorte. É benção, poeta.

4/20/2006

AFTA

Quando te vejo...
Nem sei
É uma mistura
Uma agonia
Uma coisa estranha
Vaga. Vadia.

Afta no céu da boca.

É quase poesia
Mas não rima
Ë quase sinfonia
Mas desafina
Não sei

Gosto
da azia do precipício da magia do início do silêncio da sutileza do muro da incerteza da conversa das pernas debaixo da mesa.


Eu sei.

Desejo

Desejo é palavra bonita
Rima com beijo e casa com instinto
Nada melhor que um desejo tinto
Saciado à sombra dos castiçais

Desejo tem cheiro de pêra, textura de pêssego, paradeiro de dunas
- E o tempo das ampulhetas em loop infinito.

Desejos enterrados em cova rasa
Ressuscitam à meia-noite
Outros ao meio-dia
Atacam de repente e te arrastam cativo

Mas não adianta trancar a porta.

Fiz esta canção pra te falar de nós


De nós atados
Nós aloprados
Nós que unem sem anular
Nós que prendem sem aprisionar
De nós amigos
De nos...talgia

Nós que inibem o gesto -
Calam a voz
Do que há de nós em mim
Do restou de mim após

Aquela sua indireta
Salgando o melhor pedaço
Da torta de nozes...
Você engasgou a poesia.

4/19/2006

Corais

Navega meu coração
Nas águas do teu mar
Enquanto tuas mãos caminham
Entre as ondas do meu corpo
E teus lábios me guiam
Para em teu peito atracar
Não demore
Deixe o cais
Lance fora qualquer âncora
Ouça a brisa desse sussurro:
Faça de mim teu porto seguro
Mergulhe comigoNas águas quentes dos corais.

Nada

Nada existe
A não ser o próprio nada
Nada é real
A menos que seja nada
Somos todos náufragos
Morrendo por nada
O que me faz viver
Se nada tenho a oferecer
E se de você
Não sei realmente nada?
Insisto nesta balela
Porque sempre surge algo

De onde nada se espera

Como terminar

É o fim da novela
Acabou. It’s over. The end. Já era
Pegue o elevador -
Ou se atire da janela


Bata a porta - quero ter a certeza de que fostes embora


Só não me tranque por fora:

Alguém vai entrar


4/04/2006

Box less vox


Teço
dia a dia meu terço
Guardo
quadro a quadro meu mundo
Faço
Deste quarto um meio
Furto
a cada hora um segundo

Sou número primo
Conjunto unitário
Mar sem navio
Navio corsário
Animal no cio
Fel em sumo
Sou pavio aceso
Mas em resumo
Nada além
Que mais
Do mesmo

Morro nas entrelinhas de um trem
Que não vem
Que não vem
Que não vem

Sou uma oração sem sujeito
Uma prece sem amém
A box less vox

Aos 2 anos


Conclusão:

Os gatos nascem "no vain" e a sociedade os corrompe.

Aos 6 meses

I´ll bet you think this text is about me... I´m so vain!!




O amor nos cega a ponto de não vermos a imbecilidade do mundo.

Descobri, desde o momento que a vi,
que eu a amo
incondicionalmente, unilateralmente. Só isso! Simples!

Eu não quero pensar se durará para sempre, ou se
depois de alguns anos acabará; como todos falam.
Eu só penso em viver esse momento e em
aprender a eternizá-lo. Converter o etéreo em eterno.

Coisas simples como ir ao supermercado ou conversar
em um passeio e contar tudo o que aconteceu, o que aprendi,
o que vi; como se eu tivesse acabado de conhece-la...
... é assim há dez anos...
... porque fazem dez anos que todo dia saímos a primeira vez.

Rindo um do outro (é o que mais gosto nela) e
compartilhando tudo.
O que há de errado comigo?

Porque não fico na roda de amigos eternizando nossos maus momentos?
Ser infeliz?

Porque ter essa vida feliz anormal.
Diferente dos meus “amigos”.
Rejeitar conselhos de pessoas tão experientes e sábias.
Provérbios populares como “são todas iguais”.
A voz do povo não é a voz de deus?

Talvez, porque eu a ame e seja correspondido!
Porque, como todo mundo, sabemos que somos diferentes.
Só que colocamos isso em prática.
Talvez, porque ela me ame e seja correspondida!

Te amo DD.
Ju.

Aos 30

(Img: Mapa do coração feminino - nao lembro o livro, acho que YOU ARE HERE)
Beijo-paradoxo

Falo do beijo

Não do beijo fraterno
Nem do materno

Falo do beijo despido de vergonha - exibido
Possuído de desejos e instintos possessivos
Estalos em kiss maior

Não de beijos pingados
(nos is e nos jotas)
Não do beijo ortodoxo
Falo do beijo-paradoxo
Literal e plural
Com todas as letras dizendo coisas mutantes

Beijo lascivo, molhado, preciso
Beijo roubado de quem não quer se dar
( da boca pra fora )
Falo do beijo que eu quero AGORA

Do beijo de graça
Do beijo da traça comendo o livro
Não do beijo anexo – consolo de quem seca à míngua
Falo do beijo que é sexo
Falo do beijo que é língua
Calando os pudores.

4/03/2006

Aos 20

(Img: Mapa do coração masculino - nao lembro o livro, acho que YOU ARE HERE)

Decifra-me e te devoro

Ele fala em código mutante
E grita em silêncio perpétuo
O que ecoa pelos labirintos
Dos instintos mais secretos

E tece dilemas
Escravizado em devaneios
Tendo por algemas
Seus delírios, seus anseios

E vai além
Do mais
Do cais
Do mar
De Marte

A saber que um dia
Suas emoções serão livres
Da prisão onde agoniza
Condenado por intensas crises
Que seja felicidade então

Essa eterna busca
Do que já não bate - soluça
Tirano, insano, coração.

Ao réu

Posto serem orações em essência,
Coadjuvantes premiadas pela academia
Declaro absolvida toda sentença
Iniciada em "Me perdoa" e concluída em reticências.

Meteoros

O que fazer quando as palavras se tornam imprecisas
E não conseguem traduzir o que se pensa?
Quando a poesia ainda é tão latente, tão sincera, tão intensa
Que nem ao menos se materializa?

Se me faltam palavras
Deixo de ser poeta
Sou apenas um casulo abandonado pelo último verso

Esta é a crueldade dos sentimentos-meteoros
Não podem tocar a órbita das palavras
Procuram outras rotas para chegar

Mas como posso abrigar o que existe por tua causa e a ti pertence?
Como entregar o que em letras não se fez manifesto?
E como viver sem te dizer o que penso?
Somente boca a boca se entregariam todos os versos.

So vain

Para ninar um anjo

Sauna

Ah, essa sede nao morre
Suicida em saliva
Sua e dissolve
Tudo em mim lambe
Tudo em mim lateja
Tudo em mim
Beija, Morde e Engole
Essa febre arde
Desnuda a pele
Delira a carne
Nada em mim coagula
Tudo escorre
Tudo gula
Nada seca
Nada acalma
Tudo em mim
Saaaaauna

Dúvidas

Não sei
Se te cuspo
Ou se te sugo
Se te bato
Se te abraço
Se te deixo
Ou te seguro
Se te enterro vivo
Se te como cru
Cansei
Dos teus deslizes derrapantes
Tuas desculpas esculpidas
Teu choro coadjuvante
Teu discurso neo-burguês
Não sei
Se te amo
Se te engano
Te perdoo
Ou se me dano de uma vez

CONSPIRAÇÃOTIPOGRÁFICA


Enforcou-se o canto em minhas cordas vocais
Neste canto só e mudo aguardo apenas os sinais

Não asfixie meu enfisema
Nem formule qualquer teorema sobre a razão da demência humana
Nem virgule esta sentença
Apenas ouça:
Eu sou mesmo o que você pensa. Quem te odeia. Quem te engana.

Vamos! Tragam os sinais! Um brinde! Uma taça!
Dois terços de aspas, um cubo de gelo
Quem cair por último que feche os parênteses e cole o selo

Agora sim
Vejo os cavaleiros do fim
Tão negros e densos como devem ser
Estão aqui perto de mim
Mas por que tres?
Talvez a ânsia de matar-me de uma vez

Assim, no ar, esta tortura nunca termina nem deixa evidências
Nesse canto só escuro morro aos poucos, como naftalina,
Ao deleite das reticências...

Apenas um toque preliminar


Não hesite...
Toque-me
Num experimento tátil
Quase sensual

Não tema porventura
Qualquer censura
Esqueça a ilógica conduta social
Você quer. Você pode.

Touch me now...

Ouse!
Dispa-se, bem devagar, da velha postura
Feche os olhos.

Assssssiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmm...

E se sentir um arrepio
Em cada fissura
O prazer é todo seu
Me chamam


Textura