5/21/2006

O coração que tu me destes
Coloquei na panela de pressão.
Não mandei consertar o pino porque
me encanta a música que escapa pela sauna.
Agora estou aprendendo a coreografia do pino.

Vou dançar para você esta noite.

O coração que tu me destes é claustrofóbico?
Não se atrase para o jantar.

10 comentários:

Anônimo disse...

Menina, todos os corações são lindos. Eles têm um vermelhinho que se mantém por algumas horas depois de arrancados do peito. Pouco mais tarde o vermelho vai escurecendo, o sangue vai coalhando, o medo que ele carrega escondido sai do buraco ocluso na veia aorta e se perde em anátemas. Só assim o medo se evapora. As paixões não. Elas insistem em viver no coração despaçado por várias horas, dias, talvez semanas, até se esvaírem aos borbotões dos pequenos vasos sanguíneos (nunca pensei que as paixões fossem tão aguerridas!). Não demore muito a cozinha-lo, um pouco cru fica melhor. Deve ficar bom com um Cabernet Sauvignon do Chile, aquele que carrega a fama de fazer bem ao colesterol! Que acha?
Paulo

D. disse...

Então é assim que se identifica um coração apaixonado? Quantos já terás degustado com seu cúmplice Cabernet?

Começo a me perguntar se o coração que tu me destes era mesmo seu ou se o roubastes em algum açougue a caminho de casa.

Para a primeira opção, diria que estás vivendo às custas de um coração alheio, e que, portanto, seria mesmo possível crer na genuinidade de tua entrega.

Mas na segunda opção, diria que tal crueldade é condenável, para em seguida, dar-te a absolvição. Tivestes o próprio coração consumido e agora vives de pequenos furtos. És frio. És poeta. A ti só interessam os versos e seus seduzidos.

1:21 AM

Anônimo disse...

Nem uma coisa nem outra. O coração que carrego comigo é meu mesmo e ele te presenteio. Mas não gostaria de vê-lo sendo cozido em uma panela de pressão. Prefiro no lento vapor, que leva duas vantagens: demora mais tempo para ficar no ponto e permite uma outra coreografia, a que escapa lenta e suave das chamas e não o rock-in-roll hard-core do pino da panela de pressão. Mais próximo da dança dos apaixonados. Meu coração já se consumiu, sim, mas sobreviveu, eu diria até que amadureceu, mas não sei bem o que é isso. Interessam os versos e as pessoas, principalmente aquelas para as quais escrevo. Interessa-me também o Amor e a Paixão: instituições? Interessa-me a Poesia que se produz no arder dos corações. Meu coração arde, não se consome.

D. disse...

Meu coração se consome em pratos picantes e arde em paladares singulares.

Anônimo disse...

Tem uma folhinha que conheci na França, eles a thym, nunca encontrei um similar no Brasil com as mesmas qualidades gustativas. Imagino que ficaria muito bem com seu coração, junto com uma pimentinha que eu planto em meu jardim. Vou mandar buscar o thym francês. E já que vou mesmo fazer uma encomenda, trarei também um Cabernet Sauvignon da região de Bourgogne, e a moutarde de Dijon. Que tal?

D. disse...

Ah, quanta pretensão!
Então achas mesmo que meu coração é dado assim, em bandejas de pratas? Nem as trufas d’Alba são tão reservadas. Já tentaram cultivá-lo em cativeiro, mas ao contrário das trufas negras, envenenou as raízes dos pobres carvalhos de Périgord.

Anônimo disse...

Não sou tão pretensioso, Eler. Teu coração tem outros donos. Só me sobra uma pequenina porção. Mas a imaginação não tem limites. E outrossim (gostas do outrossim?)estou gostando desse desafio de palavras e poemas. Eu escrevo sempre com inspirações nos diálogos que travo. Esse debate já me rendeu algumas páginas de versos. Eu não me considereo nem escritor nem poeta: sou coletor de palavras e frases. Escrevo a partir delas. Se bem que o rock-in-roll harde-core da panela de pressão foi pura inspiração. Teu coração eu adorarei pulsando forte em teu peito. Não o quero em bandejas de prata, nem com acompanhamentos enólogos ou temperos. Quero apenas ouvi-lo entre um poema de teu blog e o sussurro dos ventos horizontinos.

D. disse...

Paulo,

gosto de "outrossim" e de todos os "sims", até mesmo dos "não" simulados como o seu.

Não negues que és poeta.
Antes uma arrogância sincera que uma falsa modéstia. Já estás revelado e traído pelas tuas próprias construções aqui registradas. "Coletor"?
Sim, posto que é parte.
Mas, conheces a alquimia literária.
Sabes como transformar palavras em eletricidade.

Cá estou pára-raios. Vamos vivificar um monstro?

Anônimo disse...

Ok, Denise, vamos vivificar um monstro. E já que és pavio à mercê de palavras incandescentes:
Quando palavras cessam, vem música
quando músicas cessam vem silêncio
quando silêncio cessa... estou cansado de silêncios.
Escrevo poemas mas não sei o que é isso.
Não sei escrever. Não sou eu.
Não sou eu que escrevo, são meus calos.
O ralo do meu umbigo
absorve impurezas do mundo
que se esparramam em letras.
Eu as envio para os amigos.

D. disse...

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POEMA DE ESFOLIAÇÃO DIÁRIA